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Irmãos Geadas

A Gastronomia é o prato principal dos textos escritos por estes Óscar e Tó Luís, dois irmãos que, em equipa, têm vindo a dar cartas no mundo da cozinha. A sua mais recente conquista, a primeira Estrela Michelin para a cidade e distrito de Bragança, só veio a confirmar aquilo que todos nós já sabíamos. Anos e anos de trabalho, esforço e dedicação foram, mais do que reconhecidos, recompensados. E os pratos típicos transmontanos e o próprio território acabaram por, também eles, sair valorizados. Não perca, pois as crónicas dos irmãos "G" irão certamente abrir-lhe o apetite...




TRÁS-OS-MONTES, UMA IDENTIDADE MUITO PRÓPRIA

No limiar da terra fria Transmontana e já com uma longa história na produção de vinhos, Valpaços é uma das três sub-regiões que constitui a região vitivinícola de Trás-os-Montes, abrangendo 31 freguesias, na sua maioria do Distrito de Vila Real a grande divisão agrícola que define o Nordeste Transmontano é a  Terra fria,  a norte do concelho situada acima dos 600m de altitude e de pluviosidade elevada e  a Terra quente situada à cota de 350m e 400m e com um nível de pluviosidade consideravelmente mais baixo. Tal divisão reflete  o contraste climático ecológico e agro-cultural da região.

A orografia da região é bastante acidentada devido aos numerosos vales determinados pelas bacias hidrográficas do Tua, Rabaçal, Tuela e seus afluentes.

As grandes barreiras protetoras das influencias marítimas são a Norte  as serras da Padrela e da Coroa , as serras de Bornes e Nogueira a Leste e a Sul as linhas altas de Vilas Boas e Passos. A nível do solo, as características mais expressivas a Norte e a Sul da região são, respectivamente,  os solos de granito com uma boa drenagem e pouco férteis, e os xistentos mais profundos e férteis.

Depois desta breve descrição agro-climatica, é indiscutível a diferença de vinhos em função das zonas supra-descritas. Esta diferença não se reflete numa qualidade assimétrica como é perceptível pelas boas colheitas dos últimos anos que resultam em vinhos bem generosos, interessantes e bastante aromáticos.

A realidade destes factos na atualidade tem antecessores mais raros, devido muitas vezes às dificuldades inerentes à vinificação. Esta situação tem sido ultrapassada com um investimento alargado nessa área em toda a região, dando origem a adegas melhor equipadas, com sistemas de controlo de temperatura, cubas em inox e boas madeiras para estágio dos vinhos. Tal investimento e dinamismo tem vindo a transformar claramente a imagem desta região vitivinícola e dos vinhos nela produzidos.

 

G

 

A restruturação e reconversão da vinha  no que diz respeito à escolha das castas e ao trabalho do solo tem vindo a dar frutos visíveis, exemplo disso são os diferentes produtores, como Alto do Joa, Quinta das Corriças, Quinta de Arcossó Terras de Mogadouro , Valle de passos eSonim, que ano após ano tem elaborado bons vinhos e bastante competitivos no mercado. Estes são exemplos  daquilo que poderá ser uma das grandes apostas de desenvolvimento sustentável  e de vinhos de grande qualidade desta região.

No que diz respeito às nobres castas desta zona, são de produção significativa nas tintas, a tinta amarela (ou trincadeira na maior parte do pais), tinta carvalha, mourisca e touriga nacional. Quanto às castas brancas, as mais expressivas são malvasia, côdega de larinho, verdelho , fernão pires e gouveio. Destas gostaria de destacar nas tintas a tinta amarela pois o solo, clima e  características geográficas fazem com que aqui esta casta possa demonstrar as suas melhores qualidades, dado que em ano de boa maturação as características principais são a boa acidez, os taninos suaves e claros aromas a ameixas negras e amoras,  no caso das castas brancas, realço a côdega de larinho que quando em boas condições de maturação apresenta aromas florais  como louro calêndulas ou outras flores do campo, e aromas de frutos como melão pêssego ou mesmo limão, fazendo vinhos de uma complexidade digna dos apreciadores mais atentos, a acidez não é o seu forte no entanto acaba por colmata-la com uma longa persistência de boca. 

Falar de vinho é, sem dúvida, andar de mão dada com muito do que é a  carga histórica, social, cultural e gastronómica  de toda uma região e um povo.

Não podia deixar de conjugar os exímios néctares referidos  com estes belos exemplares do nosso receituário tradicional transmontano agora trabalhado sob técnicas audazes e atentas do G da pousada pelas mãos do  Óscar Geadas , as escolhas recaem na caça, exlibris do ecossistema da região e que deslumbram os palatos mais exigentes daqueles que da mesa fazem uma verdadeira “honesta volúpia”.

 

G

 

A receita de lombo de Corço com mirtilos e cevada transporta-nos para a época do ano em que nos encontra-mos a subtileza dos sabores , reclamam por um vinho Tinto um pouco evoluído de carácter “maduro” e de um bouquet complexo, que faça uma agradável ponte de sabores entre o prato e o vinho procurando assim uma bela harmonia.

Importante será referir que este género de vinhos deverá ser cuidadosamente decantado para separar o vinho dos resíduos sólidos, tal só deverá ser feito imediatamente antes de ser servido, assegurando assim a preservação do  bouquet e das suas nuances. A temperatura é outro ponto fundamental:

Para retirarmos todas as potencialidades do vinho não devemos aumentar muito a temperatura pois desta forma sentir-se-ia muito o álcool. Por outro lado se  baixar-mos demasiado a temperatura fecharíamos muito o vinho não revelando as suas características. Desta forma a temperatura recomendável é entre 14 graus e 16 graus, devendo ser  servido num copo tipo Bordéus ou Cabernet .

          

 

Saudações EnoGastronómicas

António  e  Óscar Geadas

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